A sustentabilidade está hoje entre os principais desafios das empresas. Igualmente importante é a adaptação ao veloz desenvolvimento tecnológico. Embora possam, à partida, ser vistos como campos completamente opostos, as novas tecnologias podem, na verdade, constituir um aliado fundamental na promoção de uma atividade empresarial mais sustentável.
Numa altura em que se comemorou recentemente, a 5 de junho, o Dia Mundial do Ambiente, é importante recordar que há um mundo de possibilidades – muitas ainda por explorar – em que a tecnologia pode e deve ser utilizada a favor de um mundo mais sustentável. No setor empresarial, a evolução tecnológica irá contribuir cada vez mais para que a atividade das organizações tenha o menor impacto ambiental possível.
São várias as soluções já identificadas para uma prática empresarial mais sustentável. Outras tantas, como tantas vezes acontece quando falamos do potencial da tecnologia, estão ainda por inventar.
Ainda o efeito pandemia
A pandemia levou à necessidade de se trabalhar de forma remota e, com isso, precipitou uma mudança de hábitosque, de outra forma, teria demorado muito mais tempo a acontecer. Sendo certo que o regresso à normalidade trouxe muita gente de volta aos seus locais de trabalho, em várias empresas existem hoje modelos híbridos, que conciliam uma componente presencial com outra à distância. Em alguns negócios, pôs-se mesmo fim à atividade presencial. Foi também possível normalizar-se o recurso a meios remotos para a realização de reuniões e outro tipo de contactos profissionais.
O resultado tende a ser uma redução da necessidade das viagens e de infraestruturas físicas para acolher os trabalhadores, com o consequente efeito positivo na diminuição do respetivo impacto ambiental. Esse benefício pode resultar, por exemplo, na diminuição das emissões de carbono, mas também num menor consumo de energia.
Um outro efeito da pandemia foi a expansão do comércio eletrónico, trazendo, também sobre essa via, uma redução do impacto ambiental do exercício de algumas atividades económicas. Ainda que o revés da moeda tenha sido o aumento da pegada ecológica associada às entregas ao domicílio.
O papel da tecnologia na otimização do consumo de recursos
O uso sustentável de recursos, assim como o menor consumo de energia, são alguns dos veículos mais eficazes de proteção do ambiente.
Nesse sentido, é cada vez maior a investigação e desenho de soluções que visam conseguir, por exemplo, que a tecnologia possa ser utilizada na geração de energia. No que diz respeito ao armazenamento da mesma, estão a surgir soluções a custo mais reduzido, nomeadamente baterias, células de combustível e coletores de energia térmica.
Também no que respeita aos meios de transporte utilizados pelas empresas – sejam eles grandes camiões ou carros de serviço – os veículos elétricos ou híbridos vão também ser fundamentais. A sua utilização ainda está longe de estar massificada, nomeadamente por terem ainda um custo elevado, mas é uma questão de tempo até que os preços baixem.
Outra ajuda pode vir das novas tecnologias em desenvolvimento para o transporte de energia. Em causa está, por exemplo, a possibilidade de transferência de energia sem fios, ou seja, com recurso a campos magnéticos. Estes permitirão carregar componentes eletrónicos à distância. Embora este tipo de inovação ainda tenha muito caminho a percorrer, será, a prazo, mais uma forma de reduzir a pegada ambiental, nomeadamente das empresas, ao possibilitar, por exemplo, o aumento das distâncias que os veículos elétricos podem percorrer. Desta forma, o recurso das empresas a este tipo de transporte para as suas necessidades de distribuição, deslocação de funcionários, entre tantas outras, torna-se muito mais viável.
Quanto à emissão de gases com efeito de estufa associada à produção, prestação de serviços e funcionamento das organizações, a inteligência artificial tem vindo a fornecer ferramentas para a recolha e análise de dados que ajudam as empresas a aferir e acompanhar o impacto ambiental da sua atividade.
Entre as muitas áreas onde este recurso pode ser aplicado, veja-se o caso dos restaurantes. A tecnologia pode ajudar a monitorizar o funcionamento dos equipamentos de conservação de alimentos, por exemplo, minimizando o desperdício e o gasto de energia. Em setores que utilizam maquinaria pesada, os fabricantes têm a possibilidade de controlar o desempenho das máquinas, as suas emissões e o seu consumo energético.
A inteligência artificial e o ‘machine learning’ pode, de uma forma geral, ajudar as empresas a otimizar os seus processos, as suas cadeias de produção, abastecimento e logística.
Não menos relevantes são as poupanças de papel e gasto de energia que podem resultar da crescente digitalização da economia, que permite a comunicação entre funcionários e a partilha de documentos, assim como o contacto com fornecedores e clientes por via digital.
A pegada ambiental do aumento do recurso às novas tecnologias
Diz o ditado popular que ‘não há bela sem senão’ e assim é também na área das tecnologias. O crescimento do digital, a par do desenvolvimento da inteligência artificial, entre outras inovações, obriga a um maior consumo de energia, sobretudo elétrica. Não só para a utilização dos equipamentos, mas também para fazer face às necessidades de armazenamento de informação em centros de dados e de manutenção dos servidores. A isto junta-se o crescimento exponencial da produção de dispositivos eletrónicos e do consumo de determinados minerais para o efeito e do consequente aumento do lixo eletrónico e dos resíduos gerados.
A escolha de tecnologias mais sustentáveis para estes efeitos terá de ser uma preocupação das empresas e, mais uma vez, será a própria inovação tecnológica a identificar as soluções para a redução deste impacto. Seja como for, a necessidade de ‘abraçar’ as novas tecnologias e, ao mesmo tempo, investir na sustentabilidade no exercício da atividade empresarial são incontornáveis e irão, pelo menos em parte, andar de braço dado.
Entre os benefícios para as empresas, estarão a maior competitividade das mesmas, o contributo reputacional, o potencial de poupança de custos e a capacidade de fazer face à crescente pressão regulatória sobre áreas como a sustentabilidade e a ética.